Permitam-me, a partir desta tribuna, enviar um abraço de conforto e uma mensagem de coragem a todos os homens do campo, aos agricultores e criadores de gado deste nosso Cabo Verde, e sobretudo os dos municípios do interior de Santiago, em particular, os de Santa Catarina, que têm enfrentado enormes desafios neste ano de seca e de mau ano agrícola, e manifestar-lhes a nossa solidariedade, pelas dificuldades por que estão a passar.
Dificuldades, não só para salvar o gado e as suas propriedades, mas também para sustentar as famílias, para manter os filhos na escola, para sobreviverem, à espera de soluções prometidas mas que tardam em chegar.
Senhor Presidente;
Permita-me Convidar este parlamento e todos os seus deputados, a fazer uma visita ao interior de Santiago para visitarmos os agricultores e os criadores de gado; para ouvirmos as famílias; para conhecermos na realidade a situação difícil por que passam os homens e as mulheres do campo; para ouvirmos o testemunho daqueles que lidam diariamente com o impacto das soluções apresentadas por este Governo; para conhecermos na realidade a implementação do programa de mitigação dos efeitos da seca e do mau ano agrícola, nos seus pilares de geração de emprego, salvamento do gado ou mobilização da água.
Se fizermos isso, senhor presidente,
Estou seguro que este parlamento chamará imediatamente a esta casa, o Primeiro-Ministro da República aquele que elegemos para conduzir os destinos da Nação.
Aquele que anda foragido deste parlamento, e que a última vez que compareceu nesta casa, foi para anunciar aos cabo-verdianos que tinha mobilizado cerca de um milhão e 300 mil contos para fazer face aos efeitos da seca e do mau ano agrícola.
Senhor Ministro:
Se o Governo não estivesse em propaganda e quisesse de facto salvar o Gado, 1 Milhão e 300 mil contos, seria dinheiro suficiente, por exemplo, para colocar todo o gado de Cabo Verde num curral e alimenta-lo até às próximas chuvas e devolve-lo aos seus donos.
Como é possível que com todo esse dinheiro, ainda tenhamos gado a morrer ou a ser abatido ou vendido ao desbarato por falta de condições para a sua manutenção.
Diz-nos senhor Ministro:
Como é possível, que com todo esse dinheiro, um milhão e 300 mil contos, o governo doa a um criador de gado de rincão, de palha carga, de Entre-Picos de Reda ou de Engenhos, um VALE CHEQUE de apenas 300$ para comprar um saco de ração que custa 1800$00, 1700$, 1650$, dependendo do ponto de venda, e sem garantia de encontrar ração disponível na cidade de Assomada, Órgãos ou São Domingos, para comprar com o tal VALE CHEQUE.
Esta situação vergonhosa acontece por todo Cabo Verde!
É ULTRAJANTE e INJURIOSO esta política de VALE CHEQUE impingido ao humilde homem do campo, que sempre trabalhou duro e deu o seu contributo para ajudar a levar Cabo Verde para a frente.
Diz-nos senhor Ministro!
Como é possível que, num ano de seca, de mau ano agrícola, num ano de fome, porque há centenas de famílias que não estão a conseguir levar a panela ao lume pelo menos duas vezes por dia, diz-nos que não é verdade que a solução para geração do emprego encontrada pelo governo é de ressuscitar a tão malfadada FAIMO, para colocar as mulheres chefes de família, os jovens desempregados, a limpar estradas, a juntar pedras em ribeiras, a apanhar o lixo nos bairros como presenciamos em Santiago Norte a troco de um mísero salário de pouco mais de 200$ por dia, para sustentar a família e ainda ter poupanças para comprar ração para o gado, cuja ajuda sabemos, é VALE CHEQUE de 300$00.
É um tratamento humilhante e sem dignidade. É triste, é lamentável.
Senhor Ministro:
Diz-nos se há seriedade e honestidade em tanta propaganda do Governo sobre o programa de microcrédito para salvamento do gado, quando não transfere dinheiro para as instituições de micro-crédito, que ficam com processos concluídos e acumulados, mas sem dinheiro para disponibilizar aos criadores de gado e agricultores?
Diz-nos Senhor Ministro, como devemos interpretar, o anúncio do Governo sobre a redução da capacidade de produção de água no Projeto JICA, uma herança do Governo Anterior, totalmente financiada e em curso desde 2014, porque segundo o Governo, a capacidade de produção prevista ultrapassa a necessidade de consumo e que o Governo não pode produzir água para depois deitar novamente ao mar.
Num país como Cabo Verde? A braços com seca permanente? Alguma vez água potável será excedentária?
Ou ainda não entenderam a filosofia deste projeto que é libertar a água dos furos e das nascentes para a produção agrícola e criação de gado, ou não conhecem a realidade do país, ou estamos perante um governo com falta de visão de medio-longo prazo, sem planeamento, descoordenado nas suas políticas, desorientado quanto aos caminhos do futuro e sem solução para os desafios de Cabo Verde.
Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Deputados:
Este Parlamento deve chamar a esta casa, o Primeiro-Ministro da República, para apresentar as contas às famílias Cabo-verdianas e nos dizer o que fez com todo esse dinheiro mobilizado que não chegou ainda às famílias em dificuldades, aos agricultores e criadores de gado.
A forma como este governo está a tratar as famílias cabo-verdianas, os jovens, os camponeses, os agricultores e criadores de gado, é um tratamento humilhante e sem dignidade e é nosso dever e nossa obrigação, enquanto representantes do povo, exigir mais humanismo no tratamento dos cabo-verdianos, sobretudo aqueles que passam por dificuldades.
Para terminar, Senhor Presidente,
Enquanto cidadão do campo, de Santiago Norte reitero o convite aos senhores Deputados e a todo este parlamento para promovermos um parlamento aberto em Santiago Norte de forma a constatarmos que o programa de mitigação dos efeitos da seca e do mau ano agrícola não serve os propósitos para o qual foi concebido.
Que as soluções apresentadas por este Governo não salvam o gado e não socorre as famílias em dificuldades, nem em Santiago, nem no fogo, nem em santo antão, nem no campo, nem na cidade.
Tenho Dito!