Muito gostaríamos de escrutinar os projetos em curso, à luz do Programa do Governo da IX Legislatura e em cumprimento das promessas de campanha do seu partido. Pela certa, estes projetos estruturantes, não serão a polémica realização do Festival Morabeza, nem tão pouco o polémico financiamento no sector do cinema, com numerários que exigiam concurso e não adjudicação direta, e não vimos neste processo, um sinal aos Cabo-Verdianos em CV e na nossa Diáspora, com experiências e resultados de relevo na área de produção de eventos de Cinema áudio visuais. Mais uma vez preteridos, situação que não abona ao conforto da boa transparência e da separação entre a coisa pública e a coisa privada. Não serão estes projetos estruturantes as implementações de fachada feitas ao Museu da Resistência, Ex-Campo de Concentração do Tarrafal, ainda hoje a clamar por uma intervenção condigna, tecnicamente aceitável bem como a requalificação do espaço circundante; estando o Governo a confundir o significado com o significante, a aparência com o essencial.
Convém lembrar que, de há muito que o Estado de Cabo Verde se comprometeu em promover a candidatura do Ex-Campo de Concentração a Património da Humanidade.
Não serão as lentas reedições dos clássicos nacionais por parte da Biblioteca Nacional que, pelo desempenho, praticamente deixou de promover o livro e a leitura. A Literatura ficou mais pobre neste quesito, sem dúvida.
Se calhar teríamos ido mais longe por esta altura, se o Senhor Ministro não ocupasse parte significativa do seu mandato a desmantelar o trabalho feito pelo Governo anterior. Muito do tempo, energia e dinheiro que o seu Ministério precisaria para cumprir o Programa do Governo, foi utilizado para desmantelar, sem trazer alternativas plausíveis; alguns exemplos, como a Orquestra Nacional, a Companhia Nacional da Dança, as Curadorias e o Atlantic Music Expo, este último felizmente resgatado por uma gestão privada, mas que reduziu em grande, a visão de integração global da música cabo-verdiana. Uma Feira Transatlântica da música que fez de CV uma verdadeira plataforma de encontro de centenas, hoje já são milhares de profissionais do sector, oriundos de todos os Continentes.
Onde estão os Pilares fundamentais da Politica cultural que se sedimentou até esta e foram deliberadamente desmantelados? A que custo para o erário público? Afinal a Cultura é memória, é acima de tudo resgatar e preservar a memória e a governação uma corrida de estafetas que deve procurar chegar ao destino com sentimento de cumprimento de missão e em boa coabitação com todos os que participam desta Nobre Missão.
Aplaudimos a entrega do dossier da candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade, projeto que provém da anterior legislatura.
No tocante à Cidade Velha, nosso ainda único Património Universal da Humanidade, temos consciência do muito que ainda falta fazer para salvaguardar o património histórico e estar à altura das exigências bem como para convergir, com o Turismo Cultural.
A Indústria Cultural, clama por mais parcerias com outros sectores estratégicos, nomeadamente a Industria Turística, maior interação e cooperação com a nossa Diáspora.
(Só assim a Cultura deverá continuar a cumprir o seu papel social, agregando valor com impacto positivo na geração de emprego, no crescimento económico e na melhoria do bem estar da sociedade.)
Assinalámos Sr. Ministro, como sábia, a sua mudança de registo em relação ao dossier para a candidatura dos escritos de Amílcar Cabral ao programa Memória do Mundo, junto à UNESCO, dossier capitaneado pela Fundação Amílcar Cabral.
Concordamos com o novo fôlego dado ao Carnaval de São Vicente, com o aumento de incentivos do Estado mas acreditamos que devia ser melhor analisada a situação dos incentivos aos grupos de Carnaval nas Ilhas, nomeadamente em São Nicolau e na Praia que ultrapassam em grande medida, a cada ano, a simples " Brincadeira de Carnaval" como apelidou o Sr. Ministro. Só assim se entende o porquê de tanta contestação e revolta dos grupos de Carnaval da Praia, que o Sr. Ministro desvalorizou, na Comunicação social. A distribuição desses incentivos, parece não ter obedecido mais uma vez, a critérios válidos ou reconhecidos como válidos pelos agentes culturais que integram a cadeia de produção do Carnaval de Cabo Verde, que há muito atingiu elevados patamares de reconhecimento.
Como pode depreender, Senhor Ministro, temos estado atentos ao desempenho, do Sector da Cultura, e asseguramos-lhe que não há razões para soltarmos foguetes, pois percorridos mais de metade do seu mandato ainda há muito para fazer e, sobretudo, fazer melhor.
Entretanto, é na Comunicação Social que o seu desempenho é ainda mais crítico. O que tem a dizer sobre a sua reiterada tentativa de condicionar a Comunicação social, sua relação tensa com os jornalistas, com a AJOC, Associação dos Jornalistas de CV, para não dizer dos seus planos de privatizar (estaremos atentos, Senhor Ministro) a comunicação social pública? O Senhor Ministro tem-se relacionado com o jornalismo de pedra na mão e acusa-se em confronto ao mínimo toque, como se fosse um Ministro da Propaganda do Governo e não uma tutela da comunicação social em regime democrático.
Precisamos finalmente de entrar numa nova Era, de Paz e tréguas, de mais e melhor FAZER pois afinal a Cultura é nossa identidade, e a comunicação social, nosso melhor veículo de interação com o Mundo e entre essas belas Ilhas Atlânticas.
Queremos mais para o sector da Cultura? Queremos sim.
Queremos mais para o sector da Comunicação Social? Queremos sim.
Queremos mais do que fizemos, queremos mais do que está a ser feito agora e muito melhor do que se está a fazer hoje.
Só assim estaremos a cumprir com Cabo Verde !
Obrigada.