INTERVENÇÃO INICIAL DE SUA EXCELÊNCIA - LÍDER PARLAMENTAR DO PAICV

 
DEBATE SOBRE O ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2017
 
Senhor Presidente da Assembleia Nacional, Excelência
 
Senhor Primeiro Ministro, Excelência
 
Senhoras Deputadas
 
Senhores Deputados
 
Senhoras e Senhores Membros do Governo
 
Desta tribuna dirijo-vos os melhores cumprimentos, por ocasião da discussão da proposta do segundo Orçamento do Estado da presente Legislatura, para apreciação e avaliação dos sujeitos parlamentares. 
 
Como todos sabemos, o Orçamento do Estado é um instrumento da maior importância para a vida do país. E por essa razão, estaremos todos cá atentos, para defender, “com unhas e dentes”, os interesses dos cabo-verdianos, apresentando as nossas propostas – que acreditamos serem, também, válidas e poderem complementar as da actual Maioria Parlamentar – relembrando os compromissos que foram assumidos com os cabo-verdianos e, sobretudo, colocando as expectativas do Povo e os superiores interesses do País, em primeiro lugar.
 
Enquanto Oposição Democrática com responsabilidades na fiscalização e na contribuição construtiva, para a melhor governação do país, o PAICV estará cá a debater matérias importantes, que têm a ver com a vida das populações, dos agentes económicos e sociais e com a própria administração pública do Estado.
 
Com efeito, a discussão e aprovação do Orçamento de Estado é a ocasião soberana para começar a transformar, em medidas concretas, as promessas feitas. É o momento ideal para traduzir os compromissos assumidos, em realidade efectiva! E sendo este o Orçamento de Estado cuja paternidade e/ou maternidade não possa ser imputada ao PAICV, confesso que foi aguardado, por nós, com muita expectativa! 
 
Senhor Primeiro-Ministro
 
Senhores Deputados
 
Considerando o que foi prometido na campanha eleitoral e consagrado no Programa do Governo, é nossa grande preocupação saber em que medida este Orçamento honrará os compromissos que o seu partido assumiu com os cabo-verdianos.
 
É nossa expectativa saber se este Orçamento de Estado:
 
a) Promove o crescimento económico do País;
 
b) Propicia a criação de emprego digno, maxime para os jovens;
 
c) Garante a estabilidade dos preços;
 
d) Assegura o equilíbrio das contas externas e a estabilidade macro-económica;
 
e) Prevê a execução das políticas fiscais prometidas, com a redistribuição de riqueza, para reduzir as desigualdades sociais; e, finalmente,
 
f) Assegura a satisfação das necessidades vitais, nas áreas estruturais de desenvolvimento de Cabo Verde, pela via do investimento público.
 
É que nós não nos esquecemos que, relativamente ao OE 2016, foi dito que se tratava de um orçamento atípico!
 
Desta vez, o Primeiro-Ministro não poderá esconder-se atrás da atipicidade!
 
Esperamos é que não venha se desculpar com o facto de ainda estar no começo da governação, pedindo-nos calma. E aproveito para lhe recordar que, com este Orçamento, o Senhor terá apenas mais três Orçamentos para apresentar ao País!
 
Senhoras e Senhores Deputados,
 
Só agora o MPD vem reconhecer, no Relatório relativo ao OE 2017, que a conjuntura externa adversa que tem caracterizado a economia mundial, tem impactos na economia nacional.
 
O mesmo Relatório reconhece haver aceleração do ritmo de crescimento económico no 1º Semestre de 2016 em 4,7%, para além de referir:
 
a taxa de crescimento da massa monetária em 10%, 
 
a melhoria do crédito à economia para +3,7%, 
 
as melhorias nas contas externas, 
 
o aumento das exportações de bens e serviços, bem como das receitas provenientes das exportações de serviços, 
 
o aumento das transferências correntes privadas em 21,9% e do IDE para + 43,9%.
 
É relevante, ainda, assinalar o Produto Interno Bruto (PIB) em crescimento, a diminuição da taxa de desemprego, a redução da pobreza, a consolidação das medidas fiscais adoptadas em 2015, e o aumento das reservas líquidas para mais de seis meses!
 
Mas, é preciso que TODOS – absolutamente TODOS – saibam que tais resultados encorajadores, são produto de políticas macro-económicas corajosas, mas prudentes - conseguidos num ano atípico, em que o actual Governo assumiu que não tinha quaisquer responsabilidades no OE para 2016!
 
Senhor Presidente da Assembleia Nacional,
 
Senhor Primeiro-Ministro,
 
Senhores Deputados,
 
Senhores Membros do Governo:
 
A 20 de Março, o Povo de Cabo Verde escolheu MUDAR. Mudou o seu sentido de voto para uma Nova Maioria, que prometeu que é DIFERENTE e FARIA diferente.
 
Independentemente daquilo que podemos pensar, respeitamos o sentido de voto dos cabo-verdianos que, também, nos atribuíram o papel de fiscalizar a acção governamental, de modo a garantir que aquilo que se prometeu, será cumprido.
 
Vejamos:
 
a) Do prometido crescimento de 7% ao ano, este orçamento prevê irrealisticamente 5,5%;
 
b) Dos 45.000 empregos para a Legislatura, à ordem de 9.000 empregos por ano, nem uma palavra neste OE;
 
c) Do subsídio de desemprego, a única novidade é o seu adiamento por mais 6 meses;
 
d) Do aumento do salário mínimo, uma completa omissão neste OE;
 
e) Da restituição do IUR e do IVA, uma clara diminuição do montante a restituir;
 
f) Da taxa “0” para micro, pequenas e médias empresas, passaram a ser contempladas com essa isenção apenas as empresas com um volume de negócios inferior a mil contos;
 
g) Da escolaridade mínima obrigatória e gratuita de 12 anos, para garantir mais oportunidades de formação para os jovens, já se passou para o 8º ano de escolaridade;
 
h) Do rendimento mínimo de inclusão para 25.000 famílias, este OE contempla apenas 1.161 famílias (o que quer dizer que, continuando neste ritmo, este Governo beneficiará apenas 3.500 famílias, até o final do mandato);
 
i) Da actualização anual dos salários e pensões, não se aumentou nem 1$;
 
j) Do não aumento da dívida pública – outrora bandeira de campanha – este OE prevê um aumento de 25 milhões de contos nessa mesma divida publica;
 
k) Da redução dos custos de água e energia – outrora considerados os mais caros do mundo, pelo Partido que suporta o Governo - nenhuma previsão sobre a sua eventual subsidiação e nenhuma palavra sobre a tarifa social para água e energia, conforme prometido;
 
l) Dos preços dos transportes marítimos, apenas se prevê um aumento exponencial, com incidências gravosas nos preços finais dos produtos de consumo corrente;
 
m) Da nova abordagem para o aumento dos níveis de segurança e diminuição da criminalidade, como questão emergencial e prioritária, apenas um enunciado de medidas completamente desgarradas e sem nenhum enquadramento lógico;
 
n) Da despartidarização da Administração Pública, o que se assiste é a mais dura partidarização jamais vista na história do país, ultrapassando inclusivamente a praticada nos anos 90, uma vez que nenhuma nomeação ocorrida, até hoje, tenha sido precedida de concurso publico (tão prometido aos jovens cabo-verdianos quando o MPD era Oposição). 
 
Como diria um conhecido Empresário cabo-verdiano, este Orçamento é um grande “exercício de cosmética”, cujos impactos reais na dinamização da economia cabo-verdiana – tão propalada e prometida tempos atrás – são seriamente duvidosos!
 
É que este Orçamento teve a habilidade de:
 
o) Não reduzir o IVA nas operações hoteleiras;
 
p) Não prever a taxa “0” para a inovação;
 
q) Não eliminar a parafiscalidade sobre o factor trabalho;
 
r) Não eliminar definitivamente as taxas “ad valorem”;
 
s) Não reduzir a tributação sobre a poupança;
 
t) Não reduzir nem o IRS, nem o IRC (com a promessa de redução de 5 p.p. até o final da Legislatura).
 
Senhor Primeiro-ministro,
 
Chegou, pois, o momento do Senhor assumir que as promessas que o Senhor fez aos trabalhadores, aos jovens, às famílias e aos empresários, não serão satisfeitas com este Orçamento de Estado!
 
Chegou o momento do Senhor assumir que não existe absolutamente nada de novo nos 15 maiores Projectos de Investimento que conseguiu apresentar neste OE – que, aliás, foram foram todos negociados e iniciados pelo anterior Governo.
 
E chegou o momento do Senhor assumir, perante esta Casa Parlamentar – como, aliás, já fez lá fora - que uma coisa é o que se promete na campanha, e outra coisa, completamente diferente, é aquilo que se faz na Governação!
 
Por isso, lhe perguntamos, Senhor Primeiro-Ministro:
 
Como vai o seu governo diversificar o tecido económico empresarial para gerar emprego e diminuir a taxa de desemprego juvenil?
 
Que montantes estão previstos e serão alocados à dita regionalização, que o Senhor prometeu já para Dezembro deste ano, e cujos contornos ainda se desconhece, apesar de contínuos anúncios?
 
Onde está a mudança de paradigma que propôs aos cabo-verdianos?
 
Qual a novidade deste OE para 2017?
 
Por último, e porque o debate vai colocar importantes questões sectoriais, gostaríamos que nos explicasse as razões:
 
a) Da diminuição das receitas totais;
 
b) Da continuação da dívida pública que, aliás, aumentou em cerca de 25 milhões de contos;
 
c) Do aumento das despesas de funcionamento, quando sempre disse que iria “emagrecer” o Estado que sempre considerou gordo, depois de ter avançado com um Governo que denominou de “enxuto” e tendo já transferido para os Municípios várias competências que eram assumidas pela Governação Central.
 
Senhor Presidente da Assembleia Nacional
 
Senhor Primeiro-Ministro
 
Senhores MG
 
Senhores Deputados,
 
Esperamos um debate construtivo e esclarecedor deste II OE da presente Legislatura, formulando votos que traga a tão almejada felicidade, às cabo-verdianas e aos cabo-verdianos que nos escutam.
 
Muito obrigada!
 
JANIRA HOPFFER ALMADA

Comentar


Código de segurança
Atualizar