Todos os cabo-verdianos, sem excepção, querem um Cabo Verde Melhor!
Todos os cabo-verdianos, de todos os cantos e de todas as idades, querem um país a crescer, a se desenvolver e a prosperar, para que, aqui neste chão, 43 anos depois da Independência destas ilhas, possa se realizar, sem pensar em sair, e aventurar-se no sonho de sair para “terra longi”, procurar uma vida melhor!
Senhor Primeiro-Ministro,
Todos nós queremos um Cabo Verde que, aproveitando a sua localização geoestratégica, possa se erigir, nesse mar que nos inspira e nesse mundo que nos rodeia, e se transformar numa Plataforma Internacional de prestação de serviços.
A transformação de Cabo Verde numa Plataforma de referência, de prestação de serviços, foi proposta pela Governação anterior, na sua Agenda de Transformação que lançou as bases para uma ampla e profunda infraestruturação, a partir da qual o país passou a sonhar mais, a querer mais e a ambicionar mais.
A agenda de transformação teve um impacto tão grande no país, que, ainda hoje, embora com roupagens diferentes, continua a marcar as principais orientações estratégicas.
Mas as ideias, por mais brilhantes que sejam não darão frutos se não forem enquadradas dentro de uma visão, com estratégias bem definidas e com uma missão clara, que integra e envolva todos os cabo-verdianos. É desejável que essa visão se concretize em medidas de política e reformas. E essas medidas e reformas devem ser assumidas e implementadas de forma estratégica e integrada, para que possam ter os impactos que Cabo Verde precisa e nos conduzir ao desenvolvimento sustentável com que todos nós sonhamos.
Senhor Primeiro-Ministro,
É evidente que, para alcançarmos o desenvolvimento, teremos de garantir o crescimento económico.
Mas, tão importante quanto o país crescer, é garantir que esse crescimento é sentido por todos.
Tão importante quanto crescer economicamente, é garantir a redistribuição da riqueza gerada.
E garantir a redistribuição da riqueza gerada, é garantir que cada cabo-verdiano sente que a sua vida está a melhorar, com mais empregos dignos, com mais rendimentos, com mais e melhor acesso à saúde e à educação, com melhores condições de transporte, com mais e melhor habitação, e com mais segurança.
Para o PAICV é importante sim, que o país cresça!
Claramente, a conjuntura mundial, hoje, é muito mais favorável que antes, permitindo muitos países atingir taxas de crescimento extraordinárias. Mesmo assim, estamos longe da promessa de crescimento de 7% ao ano, que o Senhor fez aos cabo-verdianos, e que, agora, quer recalibrar.
O crescimento económico – por maior que seja – só tem impacto na vida das pessoas, quando há uma perspetiva de inclusão!
Só através de um crescimento inclusivo, estaremos a caminhar para o desenvolvimento com que sonhamos!
Mais importante do que dizer aos cabo-verdianos que o país está acrescer, é cada cabo-verdiano sentir que a sua vida e está a melhorar!
Senhor Primeiro-Ministro,
A infraestruturação física e económica do país fez com que, de há alguns anos a esta parte, o Turismo se tenha erigido como o motor da nossa Economia, representando uma boa fatia do nosso PIB.
Hoje, e para além de pretender aumentar o número de turistas, temos de ambicionar mais.
Falar do crescimento económico, hoje, é também falar de um destino turístico que seja de referência e, nesse aspecto temos que agir rapidamente e de forma sustentável no sentido de qualificar o nosso destino turístico.
Falar de crescimento económico, hoje, é também falar da diversificação da nossa economia!
É chegado o momento de passarmos do discurso à prática e demonstrarmos se, de facto, estamos a trabalhar para transformar Cabo Verde num destino de referência.
Senhor Primeiro Ministro,
Ponha a mão na consciência, olhe os cabo-verdianos nos olhos e responda com sinceridade:
Por aqui, estamos a trabalhar para qualificar o nosso destino turístico?
Hoje, estamos a dinamizar a economia do turismo em todas as Ilhas? Como, se por exemplo, hoje e para Santo Antão, temos menos oferta de transporte que há dois anos atrás?
Hoje, estamos a promover os destinos internos? Como, se as ligações estão cada vez mais difíceis e as passagens cada vez mais caras? Como, se para se chegar a São Nicolau se paga mais de 30 mil escudos?
Hoje, estamos a aumentar as ligações de Cabo Verde com o mundo? Estamos a diversificar as nossas fontes de turistas? Como, se S. Vicente o segundo centro populacional do País já nem sequer tem ligações diretas, feitas pela Companhia Nacional?
Senhor Primeiro-Ministro,
É chegado o momento de, também, analisarmos se o Turismo está a crescer segundo o seu potencial e se está a “puxar” outros sectores estratégicos da nossa economia.
Por aqui, estamos a estabelecer a ligação do Turismo com outros sectores estratégicos? Com a Agricultura, com as Pescas ou com a Cultura?
Falar de um crescimento económico que seja inclusivo e sustentável, é falar também da empresarialização no sector do Agro-negócios!
Que medidas estão a ser tomadas para se garantir a modernização da agricultura e o aumento da produção, para satisfazer as demandas do mercado interno, turístico e até da Diáspora?
Estamos a conseguir reduzir as importações?
Estamos a apostar na mobilização de mais água, com a construção de mais infraestruturas hidráulicas, com o ordenamento de mais bacias hidrográficas e com mais apoio aos agricultores na modernização do sistema de rega?
Estamos a estimular a organização da produção agro-pecuária e o desenvolvimento da cadeia de valores?
Não podemos pretender o crescimento económico inclusivo, mergulhando no mais profundo abandono um sector tão importante como a agricultura!
Senhor Primeiro-Ministro,
É, igualmente, importante apostar na modernização do sector das pescas!
Mas, 3 anos depois, que modernização se está a fazer no sector das pescas?
Já se avançou com o mapeamento das infraestrutura de apoio às pescas? Já foram identificadas as necessidades a nível da construção e/ou da requalificação? O que se está a fazer para promover a pesca industrial e semi-industrial?
Que medidas existem para se garantir a renovação da nossa frota, para aumentar o potencial de captura?
Que investimentos existem a nível do processamento e transformação de pescado?
Não há crescimento económico inclusivo quando se faz apenas gestão corrente de um Sector como o das pescas. Ainda por cima quando se fragiliza a regulação, como aconteceu com a extinção da AMP.
E a nossa Cultura, o maior elo de ligação e de definição da nossa cabo-verdianidade, em qualquer parte do mundo…
Que ligações estão a ser facilitadas entre a cultura e o turismo? Até que ponto o país está a ganhar com o grande potencial cultural material e imaterial de conteúdo criativo e valor económico, abrangendo todos os sectores que envolvem a criação, assim como os produtos e serviços ligados à fruição e difusão?
Estamos, de facto, a conseguir acrescentar valor ao nosso turismo, através da cultura?
Senhor Primeiro-Ministro,
O Governo propala que o país está, hoje, a crescer 5 vezes mais do que estava há 3 anos atras!
Mas, hoje, 3 anos depois, confirma, sem pestanejar e sem gaguejar, que a vida dos cabo-verdianos está a melhorar?
Têm mais empregos dignos, hoje, quando já foram destruídos 15 mil empregos em 2 anos e 57% das pessoas pensa em emigrar?
Sentem que há mais igualdade, quando já não existem concursos públicos para cargos de chefia e as Instituições, ao invés de contratar jovens, colocam-nos como estagiários?
Sentem que têm mais acesso à água e à electricidade, quando os custos aumentaram e os salários se mantiveram iguais para a grande maioria das pessoas?
Sentem que conseguem circular melhor entre as ilhas, e das ilhas para o mundo, quando as ligações diminuíram e as passagens atingem preços proibitivos?
Sentem que a educação está mais acessível, quando se dá a isenção de propinas e, ao mesmo tempo, se corta nos subsídios da FICASE e não se garantem transportes regulares para os alunos?
Sentem que a saúde é um direito e não um luxo, quando pagam exames de 30.000$00 e esperam mais de 6 meses por uma evacuação?
O crescimento económico, quando é real e resulta da dinâmica da economia, não precisa ser anunciado, nem publicitado e muito menos propagandeado… porque é sentido, no dia-a-dia da vida das pessoas.
A situação nua e crua é que os cabo-verdianos não sentem os impactos do crescimento económico na sua vida real e não se deixam embalar pela sua ruidosa propaganda de mau gosto que quer vender ilusões e comercializar consciências.
Todos sabem que o mais importante, o que interessa mesmo, é ver o País a crescer, o desenvolvimento a chegar e a condição de vida das pessoas a melhorar.
Muito obrigada!