DECLARAÇÃO POLÍTICA - A CRISE NO DESPORTO

O Desporto, nos últimos anos, conheceu uma notória evolução, quer no plano interno, quer no plano externo. Os ganhos desportivos são resultado do esforço de todos os cabo-verdianos, particularmente dos atletas, dos diferentes agentes desportivos, das estruturas associativas e dos dirigentes nos mais diferentes níveis. O povo cabo-verdiano gosta do desporto e vive-o de forma intensa, com muita paixão e emoção. O Desporto arrasta multidões, congrega vontades e pode-se tornar num vector congregador de sinergias; quando bem utilizado, transforma-se num forte potencial de desenvolvimento do país. 
 
Apesar de sermos um país pequeno, em termos territorial e populacional, os nossos atletas têm levado o nome de Cabo Verde bem alto e bem longe, nas diferentes modalidades tendo, inclusive, algumas vezes, subido ao pódio e ostentado o título de campeão do Mundo. As vitórias das nossas selecções e dos nossos atletas, quer a nível das modalidades colectivas quer a nível das modalidades singulares, têm dado muitas alegrias ao país e são vividas com muita intensidade e emoção pelo povo cabo-verdiano, tanto no país como na diáspora. O Desporto tem exaltado a união, o sentido patriótico, o espírito de nação e da cabo-verdianidade, valores esses que nos são caros e muitas vezes de difícil alcance. Por conseguinte, a internacionalização do nosso Desporto tem-se mostrado de grande importância para Cabo Verde e não pode ter retrocessos, antes pelo contrário, deve ser cada vez mais uma aposta do Governo, em representação de todos os cabo-verdianos. O país e a nação assim o exigem.
 
Nos últimos meses há sinais evidentes de crise, nas diferentes modalidades desportivas no país. É notória alguma desorganização, falta de diálogo e descaso para com o sector do Desporto que, quer queiramos ou não, reflectem, de forma negativa, nos resultados desportivos, mas também na mobilização de esforços e vontades para se superar, de certa forma, a carência de recursos financeiros e o amadorismo.
 
O último acontecimento que não caiu bem no meio desportivo e mesmo na sociedade cabo-verdiana foi o anúncio da não participação da selecção nas eliminatórias do Afrobasquet. Para muitos cabo-verdianos essa situação não é aceitável e não querem que venha a ter lugar no nosso Desporto. Sabemos que a selecção do Basquetebol não é uma selecção qualquer. Tem dado muitas alegrias ao povo cabo-verdiano. Não é a primeira vez que a selecção de Basquetebol participa nessa competição. Se quisermos recuar no tempo, recordemos o ano de 2007, quando a nossa selecção de Basquetebol subiu ao pódio, em Angola, ocupando um mui digno e honroso terceiro lugar, a nível do continente africano, deixando para trás muitos outros países com muito mais recursos financeiros do que Cabo Verde. A nossa selecção impõe respeito e é respeitada a nível de África. Perante essa situação muito pouco clara e qua apanhou os cabo-verdianos de surpresa, alguns questionamentos se levantam para a clarificação desse caso ou se quisermos desse descaso: O Governo sabia que a nossa selecção iria participar no Afrobasquet 2017? Claro que sabia! O Governo agiu? Não, reagiu e tardiamente! O Governo, enquanto entidade que superentende e controla a organização desportiva no país, esteve atento? Tudo leva a crer que não! 
 
Face à situação de crise no desporto e neste particular no Basquetebol, o Governo não pode deixar de assumir as suas responsabilidades nessa matéria. Em todo este espectro de crise no Desporto Nacional, o Governo não pode lavar as suas mãos e cingir-se, quase que exclusivamente, à alocação de recursos financeiros e apoios. Entendemos que, para além da necessidade da adequação legislativa e regulamentar, o Governo deve estar atento à evolução do Desporto, introduzindo adequados mecanismos de financiamento, acompanhamento, controlo e diálogo a todos os níveis.  
 
O Governo é o representante do povo cabo-verdiano. Este mesmo povo cabo-verdiano delegou ao Governo poderes para agir e não para reagir. A reacção vem sempre tarde e nesse caso veio muito tarde. O Governo não pode deixar qualquer Federação “afogar-se” em problemas e fazer de contas que não é nada com ele. O alarme de crise no nosso Desporto soou e o Governo tem que fazer-se presente. 
 
Os momentos de crise podem e devem ser momentos de aprendizagem. O caso do Basquetebol é um alerta para a tomada de medidas consentâneas com a importância e o nível que o Desporto atingiu em Cabo Verde. A gestão do Desporto já não se compadece com o amadorismo e a desorganização. O nível e a performance do Desporto Nacional exigem a escalada da profissionalização e expertise, consentâneos com os novos tempos e os novos desafios. Se quisermos dar o salto não podemos ficar sentados à espera que soe o alarme, para de seguida tentarmos apagar o fogo, deixando outros potenciais focos do incêndio. 
 
O povo cabo-verdiano quer um Desporto que dignifique a Nação Cabo-verdiana.

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